Li um artigo de Maria
Teresa Esteban, muito interessante para reflexão diante da realidade que
vivenciamos na escola e transcrevi a conclusão que a autora faz sobre os
desafios da avaliação no processo de ensino-aprendizagem.
E ainda, reporto a Perrenoud (1993) que afirma que mudar a avaliação significa
provavelmente mudar a escola. Assim, mudar a prática da avaliação nos leva a
alterar práticas habituais, criando inseguranças e angústias e este é um
obstáculo que não pode ser negado, pois envolverá toda a comunidade escolar. Se
quisermos transformar a nossa prática, não nos resta outra alternativa, senão
pensarmos juntos uma nova forma de avaliar. Romper com alguns paradigmas e
mudar concepções, práticas par construir uma nova escola.
Avaliação e
Formação Docente
(Maria Teresa
Esteban)
O novo ano começa, e tudo é sempre igual: reunião das
professoras para planejar o trabalho, arrumação das salas para receber as
crianças, a merenda não chega, a obra que era para ser feita durante as férias ainda
não está pronta, faltam professoras, e exatamente aquela turma problema está sem professora.
Na sala onde está sendo realizada a reunião inicial com
as professoras, parece mesmo tudo igual: distribuem as salas, conversam sobre
como organizar o trabalho, falam da falta de professoras para cobrir todas as
atividades da escola.
Porém, olhando de perto, escutando atentamente o que
dizem, pode-se perceber que é tudo igual e tudo diferente. Estão falando da
distribuição das salas, mas preocupam-se em garantir que aquela turma
considerada problema tenha a melhor sala da escola, aquela que teve obra, “que
está toda bonitinha, com cortinas e tudo”. Falam sobre como organizar o
trabalho, mas o que surge são suas dúvidas sobre como dar conseqüência
pedagógica à opção que coletivamente haviam feito de trabalhar com turmas
heterogêneas. Como desenvolver um trabalho favorável a todas as crianças?
Admitem claramente que consideram importante, embora não saibam como, trabalhar
assumindo a complexidade do processo ensino/aprendizagem e a heterogeneidade
das turmas. Dialogam sobre seus conhecimentos e seus desconhecimentos.
Conversam sobre a falta de professores, mas se organizam de modo que nenhuma
turma fique em casa, e nenhuma criança sem professora.
Olhando de perto, o que se encontra ainda é o caos. O ano
letivo tem de começar, e as professoras estão sem saber exatamente o que fazer.
Parecem compreender que no cotidiano se misturam ordem e desordem, sendo sem
sentido considerar a desordem evento negativo e a ordem o estado positivo que
deve ser alcançado e mantido a qualquer custo. Neste contexto, quero destacar a
importância de as professoras assumirem o seu não-saber e de estabelecerem um movimento
em direção a novos saberes. Entendo ser igualmente significativo resgatar,
resumidamente, o processo que levou a essa conclusão, pois tudo começou com a
reflexão proposta por uma professora sobre uma turma em que aparentemente as
crianças não aprendiam. O processo dessa turma indicava a insuficiência da
avaliação como prática de classificação e, simultaneamente, revelava a
potencialidade de uma avaliação realizada como uma prática de investigação,
sobretudo por sua ambivalência e pela complexidade do processo
ensino/aprendizagem. A avaliação foi sendo trabalhada como uma prática que traz
ao mesmo tempo os saberes e os não-saberes de quem ensina e de quem aprende,
mostrando que não é só a professora quem ensina, nem é só o/a aluno/a quem
aprende. Avaliando as crianças, as professoras também se avaliam; indagando
sobre o processo de aprendizagem, também indagam sobre o processo de ensino.
A reflexão sobre a decisão tomada sobre um caso particular
– não reprovar a turma – provocou uma reflexão sobre a realidade da escola,
indicando a necessidade de mudança e revelando a incerteza como parte relevante
do processo de construção de novos conhecimentos.
O trabalho com a incerteza incita
ao pensamento complexo: a incompressibilidade paradigmática de meu tetragrama
(ordem/desordem/interação/organização) mostra-nos que nunca haverá uma
palavra-chave – uma fórmula-chave, uma idéia-chave – que comande o universo. E
a complexidade não é só pensar o uno e o múltiplo conjuntamente, é também
pensar conjuntamente o incerto e o certo, o lógico e o contraditório, e é a
inclusão do observador na observação. (Morin, 1999, p. 206)
Termino este trabalho mergulhada, como toda a escola, na
incerteza sobre o que irá acontecer. No entanto, posso afirmar que o próprio
movimento de reflexão já é indício de transformações significativas no modo
como as professoras pensam o cotidiano escolar e nele atuam. Movidas pelo fim
de suas certezas, constroem caminhos para superar o desafio assumido, caminhos
que certamente têm desvios, atalhos, pistas erradas, e até alguns retornos que
podem fazer com que tudo volte ao seu início. Apesar de todo o processo, vivem
o cotidiano e todo dia fazem tudo igual, mas, desta vez, fazendo igual, fazem
tudo diferente, porque trazem a dúvida como componente de suas ações. E a
dúvida está sempre grávida de novas possibilidades.
SUGESTÃO
DE LEITURA SOBRE AVALIAÇÃO:
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