segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Avaliação da Aprendizagem



Li um artigo de Maria Teresa Esteban, muito interessante para reflexão diante da realidade que vivenciamos na escola e transcrevi a conclusão que a autora faz sobre os desafios da avaliação no processo de ensino-aprendizagem.  

E ainda, reporto a Perrenoud (1993) que afirma que mudar a avaliação significa provavelmente mudar a escola. Assim, mudar a prática da avaliação nos leva a alterar práticas habituais, criando inseguranças e angústias e este é um obstáculo que não pode ser negado, pois envolverá toda a comunidade escolar. Se quisermos transformar a nossa prática, não nos resta outra alternativa, senão pensarmos juntos uma nova forma de avaliar. Romper com alguns paradigmas e mudar concepções, práticas par construir uma nova escola.


Avaliação e Formação Docente

(Maria Teresa Esteban)

O novo ano começa, e tudo é sempre igual: reunião das professoras para planejar o trabalho, arrumação das salas para receber as crianças, a merenda não chega, a obra que era para ser feita durante as férias ainda não está pronta, faltam professoras, e exatamente aquela turma problema está sem professora.

Na sala onde está sendo realizada a reunião inicial com as professoras, parece mesmo tudo igual: distribuem as salas, conversam sobre como organizar o trabalho, falam da falta de professoras para cobrir todas as atividades da escola.

Porém, olhando de perto, escutando atentamente o que dizem, pode-se perceber que é tudo igual e tudo diferente. Estão falando da distribuição das salas, mas preocupam-se em garantir que aquela turma considerada problema tenha a melhor sala da escola, aquela que teve obra, “que está toda bonitinha, com cortinas e tudo”. Falam sobre como organizar o trabalho, mas o que surge são suas dúvidas sobre como dar conseqüência pedagógica à opção que coletivamente haviam feito de trabalhar com turmas heterogêneas. Como desenvolver um trabalho favorável a todas as crianças? Admitem claramente que consideram importante, embora não saibam como, trabalhar assumindo a complexidade do processo ensino/aprendizagem e a heterogeneidade das turmas. Dialogam sobre seus conhecimentos e seus desconhecimentos. Conversam sobre a falta de professores, mas se organizam de modo que nenhuma turma fique em casa, e nenhuma criança sem professora.

Olhando de perto, o que se encontra ainda é o caos. O ano letivo tem de começar, e as professoras estão sem saber exatamente o que fazer. Parecem compreender que no cotidiano se misturam ordem e desordem, sendo sem sentido considerar a desordem evento negativo e a ordem o estado positivo que deve ser alcançado e mantido a qualquer custo. Neste contexto, quero destacar a importância de as professoras assumirem o seu não-saber e de estabelecerem um movimento em direção a novos saberes. Entendo ser igualmente significativo resgatar, resumidamente, o processo que levou a essa conclusão, pois tudo começou com a reflexão proposta por uma professora sobre uma turma em que aparentemente as crianças não aprendiam. O processo dessa turma indicava a insuficiência da avaliação como prática de classificação e, simultaneamente, revelava a potencialidade de uma avaliação realizada como uma prática de investigação, sobretudo por sua ambivalência e pela complexidade do processo ensino/aprendizagem. A avaliação foi sendo trabalhada como uma prática que traz ao mesmo tempo os saberes e os não-saberes de quem ensina e de quem aprende, mostrando que não é só a professora quem ensina, nem é só o/a aluno/a quem aprende. Avaliando as crianças, as professoras também se avaliam; indagando sobre o processo de aprendizagem, também indagam sobre o processo de ensino.

A reflexão sobre a decisão tomada sobre um caso particular – não reprovar a turma – provocou uma reflexão sobre a realidade da escola, indicando a necessidade de mudança e revelando a incerteza como parte relevante do processo de construção de novos conhecimentos.

O trabalho com a incerteza incita ao pensamento complexo: a incompressibilidade paradigmática de meu tetragrama (ordem/desordem/interação/organização) mostra-nos que nunca haverá uma palavra-chave – uma fórmula-chave, uma idéia-chave – que comande o universo. E a complexidade não é só pensar o uno e o múltiplo conjuntamente, é também pensar conjuntamente o incerto e o certo, o lógico e o contraditório, e é a inclusão do observador na observação. (Morin, 1999, p. 206)

Termino este trabalho mergulhada, como toda a escola, na incerteza sobre o que irá acontecer. No entanto, posso afirmar que o próprio movimento de reflexão já é indício de transformações significativas no modo como as professoras pensam o cotidiano escolar e nele atuam. Movidas pelo fim de suas certezas, constroem caminhos para superar o desafio assumido, caminhos que certamente têm desvios, atalhos, pistas erradas, e até alguns retornos que podem fazer com que tudo volte ao seu início. Apesar de todo o processo, vivem o cotidiano e todo dia fazem tudo igual, mas, desta vez, fazendo igual, fazem tudo diferente, porque trazem a dúvida como componente de suas ações. E a dúvida está sempre grávida de novas possibilidades.




SUGESTÃO DE LEITURA SOBRE AVALIAÇÃO:



http://revistapaideia.unimesvirtual.com.br/index.php?journal=paideia&page=article&op=viewFile&path[]=225&path[]=208

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