"Ser educador é ser um poeta do amor. Educar é acreditar na vida e ter esperança no futuro. Educar é semear com sabedoria e colher com paciência." (Augusto Cury)
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Por que Eldorado tem esse nome?
Durante o primeiro semestre de 2011, a Federação das
Indústrias de Mato Grosso do Sul (FIEMS) veiculou uma série de vídeos que
contam a origem de algumas cidades de nosso Estado, numa campanha intitulada
“Em nome das cidades”.
Para
quem não conhece a origem do nome (topônimo) da cidade de Eldorado, ou não teve
a oportunidade de assistir ao vídeo, o curta está disponível no Youtube, veja.
MÃE
“O amor de mãe por seu filho é
diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele
ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho.”
(Agatha Christie)
terça-feira, 26 de março de 2013
Quadro Síntese - Tendências Pedagógicas
Nome da Tendência Pedagógica |
Papel da Escola |
Conteúdos |
Métodos |
Professor
|
Aprendizagem |
Manifestações |
Pedagogia
|
Preparação intelectual e moral dos alunos para assumir seu papel na sociedade. |
São conhecimento e valores sociais acumulados através dos tempos e repassados aos alunos como verdades absolutas. |
Exposição e demonstração verbel da matéria e / ou por meios de modelos. |
Autoridade do professor que exige atitude receptiva do aluno. |
A aprendizagem é receptiva e mecânica, sem se considerar as características próprias de cada idade. |
Nas escolas que adotam filosofias humanistas clássicas ou científicas. |
Tendência
|
A escola deve adequar as necessidades individuais ao meio social. |
Os conteúdos são estabelecidos a partir das experiências vividas pelos alunos frente às situações problemas. |
Por meio de experiências, pesquisas e método de solução de problemas. |
O professor é auxiliador no desenvolvimento livre da criança. |
É baseada na motivação e na estimulação de problemas. |
Montessori
Decroly
|
Tendência
|
Formação de atitudes. |
Baseia-se na busca dos conhecimentos pelos próprios alunos. |
Método baseado na facilitação da aprendizagem. |
Educação centralizada no aluno e o professor é quem garantirá um relacionamento de respeito. |
Aprender é modificar as percepções da realidade. |
Carl Rogers, "Sumermerhill" escola de A. Neill. |
Tendência
|
É modeladora do comportamento humano através de técnicas específicas. |
São informações ordenadas numa seqüência lógica e psicológica. |
Procedimentos e técnicas para a transmissão e recepção de informações. |
Relação objetiva onde o professor transmite informações e o aluno vai fixá-las. |
Aprendizagem baseada no desempenho. |
Leis
5.540/68
|
Tendência Progressista Libertadora |
Não atua em escolas, porém visa levar professores e alunos a atingir um nível de consciência da realidade em que vivem na busca da transformação social. |
Temas geradores. |
Grupos de discussão. |
A relação é de igual para igual, horizontalmente. |
Resolução da situação problema. |
Paulo Freire. |
Tendência Progressista Libertária. |
Transformação da personalidade num sentido libertário e autogestionário. |
As matérias são colocadas mas não exigidas. |
Vivência grupal na forma de auto-gestão. |
É não diretiva, o professor é orientador e os alunos livres. |
Aprendiagem informal, via grupo. |
C.
Freinet
|
Tendência
Progressista "crítico social
|
Difusão dos conteúdos. |
Conteúdos culturais universais que são incorporados pela humanidade frente à realidade social. |
O método parte de uma relação direta da experiência do aluno confrontada com o saber sistematizado. |
Papel do aluno como participador e do professor como mediador entre o saber e o aluno. |
Baseadas nas estruturas cognitivas já estruturadas nos alunos. |
Makarenko
|
Nome da Tendência Pedagógica |
Papel da Escola |
Conteúdos |
Métodos |
Professor
|
Aprendizagem |
Manifestações |
|
Tendência Progressista Libertadora |
Não atua em escolas, porém visa levar professores e alunos a atingir um nível de consciência da realidade em que vivem na busca da transformação social. |
Temas geradores. |
Grupos de discussão. |
A relação é de igual para igual, horizontalmente. |
Resolução da situação problema. |
Paulo Freire. |
|
Tendência Progressista Libertária. |
Transformação da personalidade num sentido libertário e autogestionário. |
As matérias são colocadas mas não exigidas. |
Vivência grupal na forma de auto-gestão. |
É não diretiva, o professor é orientador e os alunos livres. |
Aprendiagem informal, via grupo. |
C.
Freinet
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Tendência
Progressista "crítico social
|
Difusão dos conteúdos. |
Conteúdos culturais universais que são incorporados pela humanidade frente à realidade social. |
O método parte de uma relação direta da experiência do aluno confrontada com o saber sistematizado. |
Papel do aluno como participador e do professor como mediador entre o saber e o aluno. |
Baseadas nas estruturas cognitivas já estruturadas nos alunos. |
Makarenko
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AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR BRASILEIRA E
SEUS PRESSUPOSTOS DE APRENDIZAGEM
Delcio
Barros da Silva
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é verificar os pressupostos
de aprendizagem empregados pelas diferentes tendências pedagógicas na prática
escolar brasileira, numa tentativa de contribuir, teoricamente, para a formação
continuada de professores.
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a
condicionantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes concepções de
homem e de sociedade e, conseqüentemente, diferentes pressupostos sobre o papel
da escola e da aprendizagem, inter alia.
Assim, justifica-se o presente estudo, tendo em vista que o modo como os
professores realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses pressupostos
teóricos, explícita ou implicitamente.
Embora se reconheçam as dificuldades do
estabelecimento de uma síntese dessas diferentes tendências pedagógicas, cujas
influências se refletem no ecletismo do ensino atual, emprega-se, neste estudo,
a teoria de José Carlos Libâneo, que as classifica em dois grupos: “liberais” e
“progressistas”. No primeiro grupo, estão incluídas a tendência “tradicional”,
a “renovada progressivista”, a “renovada não-diretiva” e a “tecnicista”. No
segundo, a tendência “libertadora”, a “libertária” e a “crítico-social dos
conteúdos”.
Justifica-se, também, este trabalho pelo fato de que
novos avanços no campo da Psicologia da Aprendizagem, bem como a revalorização
das idéias de psicólogos interacionistas, como Piaget, Vygotsky e Wallon, e a
autonomia da escola na construção de sua Proposta Pedagógica, a partir da LDB
9.394/96, exigem uma atualização constante do professor. Através do
conhecimento dessas tendências pedagógicas e dos seus pressupostos de
aprendizagem, o professor terá condições de avaliar os fundamentos teóricos
empregados na sua prática em sala de aula.
No aspecto teórico-prático, ou seja, nas
manifestações na prática escolar das diversas tendências educacionais, será
dado ênfase ao ensino da Língua Portuguesa, considerando-se as diferentes
concepções de linguagem que perpassam esses períodos do pensamento pedagógico
brasileiro.
2. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS
Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sustenta
a idéia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o desempenho
de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o
indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigentes na sociedade de
classe, através do desenvolvimento da cultura individual. Devido a essa ênfase
no aspecto cultural, as diferenças entre as classes sociais não são
consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a idéia de igualdade
de oportunidades, não leva em conta a
desigualdade de condições.
2.1. TENDÊNCIA LIBERAL TRADICIONAL
Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal
tradicional se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral.
De acordo com essa escola tradicional, o aluno é educado para atingir sua plena
realização através de seu próprio esforço. Sendo assim, as diferenças de classe
social não são consideradas e toda a prática escolar não tem nenhuma relação
com o cotidiano do aluno.
Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a idéia de
que o ensino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da criança é
acompanhada de outra: a de que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto, sem levar
em conta as características próprias de cada idade. A criança é vista, assim, como um adulto em miniatura, apenas
menos desenvolvida.
No ensino da língua portuguesa, parte-se da concepção
que considera a linguagem como expressão do pensamento. Os seguidores dessa
corrente lingüística, em razão disso, preocupam-se com a organização lógica do
pensamento, o que presume a necessidade de regras do bem falar e do bem
escrever. Segundo essa concepção de linguagem, a Gramática Tradicional ou Normativa
se constitui no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois vê nessa gramática
uma perspectiva de normatização lingüística, tomando como modelo de norma culta
as obras dos nossos grandes escritores clássicos. Portanto, saber gramática,
teoria gramatical, é a garantia de se chegar ao domínio da língua oral ou
escrita.
Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o
ensino da gramática pela gramática, com ênfase nos exercícios repetitivos e de
recapitulação da matéria, exigindo uma atitude receptiva e mecânica do aluno.
Os conteúdos são organizados pelo professor, numa seqüência lógica, e a
avaliação é realizada através de provas escritas e exercícios de casa.
2.2. TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSIVISTA
Segundo essa perspectiva
teórica de Libâneo, a tendência liberal renovada (ou pragmatista) acentua o
sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais.
A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno
para assumir seu papel na sociedade, adaptando as necessidades do educando ao
meio social, por isso ela deve imitar a vida. Se, na tendência liberal
tradicional, a atividade pedagógica estava centrada no professor, na escola
renovada progressivista, defende-se a idéia de “aprender fazendo”, portanto
centrada no aluno, valorizando as tentativas experimentais, a pesquisa, a
descoberta, o estudo do meio natural e social, etc, levando em conta os
interesses do aluno.
Como pressupostos de aprendizagem, aprender se torna
uma atividade de descoberta, é uma auto-aprendizagem, sendo o ambiente apenas
um meio estimulador. Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno,
através da descoberta pessoal; o que é incorporado passa a compor a estrutura
cognitiva para ser empregado em novas situações. É a tomada de consciência,
segundo Piaget.
No ensino da língua, essas idéias escolanovistas não
trouxeram maiores conseqüências, pois esbarraram na prática da tendência
liberal tradicional.
2.3. TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA NÃO-DIRETIVA
Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na
formação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preocupada com os
problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais. Todo o esforço
deve visar a uma mudança dentro do indivíduo, ou seja, a uma adequação pessoal
às solicitações do ambiente.
Aprender é modificar suas próprias percepções. Apenas
se aprende o que estiver significativamente relacionado com essas percepções. A
retenção se dá pela relevância do aprendido em relação ao “eu”, o que torna a
avaliação escolar sem sentido, privilegiando-se a auto-avaliação. Trata-se de
um ensino centrado no aluno, sendo o professor apenas um facilitador. No ensino
da língua, tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as idéias da escola
renovada não-diretiva, embora muito difundidas, encontraram, também, uma
barreira na prática da tendência liberal tradicional.
2.4. TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema
capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto,
emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia
comportamental. Seu interesse principal é, portanto, produzir indivíduos
“competentes” para o mercado de trabalho, não se preocupando com as mudanças
sociais.
Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada
na teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depositário passivo dos
conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através de associações.
Skinner foi o expoente principal dessa corrente psicológica, também conhecida
como behaviorista. Segundo RICHTER (2000), a visão behaviorista acredita que
adquirimos uma língua por meio de imitação
e formação de hábitos, por isso a
ênfase na repetição, nos drills, na
instrução programada, para que o aluno for me “hábitos” do uso correto da
linguagem.
A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71,
que implantou a escola tecnicista no Brasil, preponderaram as influências do
estruturalismo lingüístico e a concepção de linguagem como instrumento de
comunicação. A língua – como diz
TRAVAGLIA (1998) – é vista como um código, ou seja, um conjunto de
signos que se combinam segundo regras e que é capaz de transmitir uma mensagem,
informações de um emissor a um receptor. Portanto, para os estruturalistas,
saber a língua é, sobretudo, dominar o código.
No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa
concepção de linguagem, o trabalho com
as estruturas lingüísticas, separadas do homem no seu contexto social, é visto como possibilidade de desenvolver a
expressão oral e escrita. A tendência tecnicista é, de certa forma, uma
modernização da escola tradicional e, apesar das contribuições teóricas do
estruturalismo, não conseguiu superar os equívocos apresentados pelo ensino da
língua centrado na gramática normativa. Em parte, esses problemas ocorreram
devido às dificuldades de o professor
assimilar as novas teorias sobre o ensino da língua materna.
3. TENDÊNCIAS
PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS
Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa as
tendências que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais,
sustentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação.
3.1. TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA
As tendências progressistas libertadora e libertária
têm, em comum, a defesa da autogestão pedagógica e o antiautoritarismo. A
escola libertadora, também conhecida como a pedagogia de Paulo Freire, vincula
a educação à luta e organização de classe do oprimido. Segundo GADOTTI (1988),
Paulo Freire não considera o papel informativo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas insiste que o
conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto deste, não se elabora uma nova teoria do conhecimento e se os
oprimidos não podem adquirir uma nova estrutura
do conhecimento que lhes permita reelaborar e reordenar seus próprios conhecimentos
e apropriar-se de outros.
Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de
classes, o saber mais importante para o oprimido é a descoberta da sua situação
de oprimido, a condição para se libertar da exploração política e econômica,
através da elaboração da consciência crítica passo a passo com sua organização
de classe. Por isso, a pedagogia libertadora ultrapassa os limites da
pedagogia, situando-se também no campo da economia, da política e das ciências
sociais, conforme Gadotti.
Como pressuposto de aprendizagem, a força motivadora
deve decorrer da codificação de uma situação-problema que será analisada
criticamente, envolvendo o exercício da abstração, pelo qual se procura
alcançar, por meio de representações da realidade concreta, a razão de ser dos fatos. Assim, como afirma
Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da
situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma
aproximação crítica dessa realidade. Portanto o conhecimento que o educando
transfere representa uma resposta à situação de opressão a que se chega pelo
processo de compreensão, reflexão e crítica.
No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista,
sintetiza sua idéia de dialogismo: “Eu vou ao texto carinhosamente. De modo
geral, simbolicamente, eu puxo uma cadeira e convido o autor, não importa qual,
a travar um diálogo comigo”.
3.2. TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA
A escola progressista libertária parte do pressuposto
de que somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em situações
novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância se for possível seu
uso prático. A ênfase na aprendizagem informal, via grupo, e a negação de toda forma de repressão, visam
a favorecer o desenvolvimento de pessoas mais livres. No ensino da língua, procura valorizar o
texto produzido pelo aluno, além da negociação de sentidos na leitura.
3.3. TENDÊNCIA PROGRESSISTA CRÍTICO-SOCIAL DOS
CONTEÚDOS
Conforme Libâneo, a tendência progressista
crítico-social dos conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária,
acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. A
atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas
contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de
conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na
democratização da sociedade.
Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o
princípio da aprendizagem significativa, partindo do que o aluno já sabe. A
transferência da aprendizagem só se realiza no momento da síntese, isto é,
quando o aluno supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão mais
clara e unificadora.
4. TENDÊNCIAS
PEDAGÓGICAS PÓS-LDB 9.394/96
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
de n.º 9.394/96, revalorizam-se as
idéias de Piaget, Vygotsky e Wallon. Um dos pontos em comum entre esses
psicólogos é o fato de serem interacionistas, porque concebem o conhecimento
como resultado da ação que se passa entre o sujeito e um objeto. De acordo com
ARANHA (1998), o conhecimento não está, então, no sujeito, como queriam os
inatistas, nem no objeto, como diziam os empiristas, mas resulta da interação
entre ambos.
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo
essa perspectiva interacionista, a leitura como processo permite a
possibilidade de negociação de sentidos em sala de aula. O processo de leitura,
portanto, não é centrado no texto, ascendente, bottom-up, como queriam os empiristas, nem no receptor,
descendente, top-down, segundo os
inatistas, mas ascendente/descendente, ou seja, a partir de uma negociação de
sentido entre enunciador e receptor. Assim, nessa abordagem interacionista, o
receptor é retirado da sua condição de mero objeto do sentido do texto, de
alguém que estava ali para decifrá-lo,
decodificá-lo, como ocorria, tradicionalmente, no ensino da leitura.
As idéias desses psicólogos interacionistas vêm ao
encontro da concepção que considera a linguagem como forma de atuação sobre o
homem e o mundo e das modernas teorias sobre os estudos do texto, como a
Lingüística Textual, a Análise do Discurso, a Semântica Argumentativa e a
Pragmática, entre outros.
5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com esse quadro teórico de José Carlos
Libâneo, deduz-se que as tendências pedagógicas liberais, ou seja, a
tradicional, a renovada e a tecnicista, por se declararem neutras, nunca
assumiram compromisso com as transformações da sociedade, embora, na prática,
procurassem legitimar a ordem econômica e social do sistema capitalista. No ensino
da língua, predominaram os métodos de base ora empirista, ora inatista, com
ensino da gramática tradicional, ou sob
algumas as influências teóricas do estruturalismo e do gerativismo, a partir da
Lei 5.692/71, da Reforma do Ensino.
Já as tendências pedagógicas progressistas, em
oposição às liberais, têm em comum a análise crítica do sistema capitalista. De
base empirista (Paulo Freire se proclamava um deles) e marxista (com as idéias
de Gramsci), essas tendências, no ensino da língua, valorizam o texto produzido pelo aluno, a
partir do seu conhecimento de mundo, assim como a possibilidade de negociação
de sentido na leitura.
A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as
difusão das idéias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa perspectiva sócio-histórica,
essas teorias buscam uma aproximação com modernas correntes do ensino da língua
que consideram a linguagem como forma de atuação sobre o homem e o mundo, ou
seja, como processo de interação verbal, que constitui a sua realidade
fundamental.
BIBLIOGRAFIA
ARANHA,
Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo :
Editora Moderna, 1998.
COSTA, Marisa Vorraber et al. O Currículo nos Limiares do
Contemporâneo. Rio de Janeiro : DP&A editora, 1999.
GADOTTI, Moacir.
Pensamento Pedagógico Brasileiro. São Paulo : Ática, 1988.
LIBÂNEO, José Carlos.
Democratização da Escola Pública. São Paulo : Loyola, 1990.
MATUI, Jiron. Construtivismo. São Paulo : Editora Moderna, 1998.
RICHTER,
Marcos Gustavo. Ensino do Português e Interatividade. Santa Maria : Editora da UFSM, 2000.
TRAVAGLIA,
Luiz Carlos. Gramática e Interação. São Paulo : Cortez, 1998.
domingo, 17 de março de 2013
Planejamento de Ensino e Seus Componentes I
PLANO DE ENSINO é o resultado da ação mental de planejar; é
elaborado de acordo com o Referencial Curricular para o ensino fundamental e
médio e o Projeto Político Pedagógico da Escola; representa a forma de o
professor organizar o seu ensino e é fundamentado nos pressupostos que orientam
a ação docente de cada professor; com o plano, o professor começa a dar vida ao
projeto político e ao referencial.
O
plano de ensino pode ser de três tipos:
1-
Plano de disciplina
2-
Plano de unidade
3-
Plano de aula
1-
PLANO DE DISCIPLINA é a previsão do
trabalho docente e discente para o ano letivo; tem por objetivo organizar o
ensino de modo a promover a aprendizagem do aluno e o bom desempenho do
professor. Pode ser elaborado distribuindo todo o conteúdo ao longo do ano ou distribuindo
o conteúdo por unidades fazendo um plano de disciplina dividido em unidades de
ensino.
Componentes:
Identificação
Ementa
Objetivo(s)
geral(ais) e específico (s)
Conteúdo
programático
Procedimentos
metodológicos
Recursos
Atividades
discentes
Avaliação
Referências
básica e complementar
2- PLANO DE UNIDADE é a organização de
partes da ação pretendida no plano de disciplina.
Componentes:
Identificação
UNIDADE
I: assunto, carga horária (CH); objetivo da unidade (se quiser), período.
Objetivos
específicos
Conteúdos Dia/CH
Procedimentos
Recursos
Atividades
discentes:
Avaliação:
Leitura
básica:
Leitura
complementar:
Observações:
3-
PLANO DE AULA é a especificação e
operacionalização do trabalho docente cotidiano; inclui as atividades
discentes.
Componentes:
Identificação
Objetivo(s)
operacional(ais)
Conteúdo
Procedimentos
metodológicos
Recursos
Atividades
discentes
Avaliação
Bibliografia
básica e complementar
AFINAL, O QUE É COMPETÊNCIA?
Afinal, O Que é Competência?
Guiomar
Namo Mello
(Texto
Publicado Originalmente na Revista Nova Escola Março 2003)
O termo competência está na ordem do dia do debate educacional no
Brasil, mas o conceito não é novo. Sempre que dizemos o que um aluno deve
aprender e o que ele deve fazer com o que aprendeu, estamos nos referindo a uma
competência. Há muito tempo, professores perseguem a constituição de
competências nos alunos porque é um objetivo do ensino propiciar mudanças que
caracterizem desenvolvimento, seja ele cognitivo, afetivo ou social. Para mais
bem compreender o que é competência, podemos destacar algumas de suas
características.
1. Competência é a capacidade
de mobilizar conhecimentos, valores e decisões para agir de modo pertinente
numa determinada situação. Portanto, para constatá-la, há que considerar também
os conhecimentos e valores que estão na pessoa e nem sempre podem ser
observados.
"Se quisermos alunos competentes, teremos de ir além do ensino para
memorização de conceitos abstratos"
2. Competências e habilidades
pertencem à mesma família. A diferença entre elas é determinada pelo contexto.
Uma habilidade, num determinado contexto, pode ser uma competência, por
envolver outras habilidades mais específicas. Por exemplo: a competência de
resolução de problemas envolve diferentes habilidades — entre elas a de buscar
e processar informação. Mas a habilidade de processar informações, em si,
envolve habilidades mais específicas, como leitura de gráficos, cálculos etc.
Logo, dependendo do contexto em que está sendo considerada, a competência pode
ser uma habilidade. Ou vice-versa.
3. Par sermos competentes, precisamos dominar conhecimentos. mas também devemos saber mobilizá-los e aplicá-los de modo pertinente à situação. Tal decisão significa vontade, escolha e, portanto, valores. E essa é a dimensão ética da competência. Que também se aprende, que também é aprendida.
Em resumo: a
competência só pode ser constituída na prática. Não é só o saber, mas o saber
fazer. Aprende-se fazendo, numa situação que requeira esse fazer determinado.
Esse princípio é crucial para a educação. Se quisermos desenvolver competências
em nossos alunos, teremos de ir além do ensino para memorização de conceitos
abstratos e fora de contexto. É preciso que eles aprendam para que serve o
conhecimento, quando e como aplicá-lo. Isso é competência.
quinta-feira, 14 de março de 2013
Manoel de Barros
Manoel Wenceslau Leite de
Barros nasceu no dia 19 de dezembro de 1916, à beira do rio Cuiabá (MT). Morou
também em Corumbá (MS) e no Rio de Janeiro. Atualmente, vive em Campo Grande (MS).
Seu pai, João Venceslau
Barros, possuía uma fazenda no Pantanal, onde o menino Manoel, carinhosamente
chamado de Nequinho, cresceu brincando. Frequentou colégio interno aos 8 anos em Campo Grande e,
depois, no Rio de Janeiro. Não gostava de estudar até descobrir os livros do
Padre Antônio Vieira: “A frase para ele era mais importante que a verdade, mais
importante que a sua própria fé. O que importava era a estética, o alcance
plástico. Foi quando percebi que o poeta não tem compromisso com a verdade, mas
com a verossimilhança”. Ao longo dos anos passados nos internatos, leu avidamente
os clássicos atentando para a escrita e as estratégias narrativas por eles
produzidas.
Logo que deixou o colégio, Manoel de Barros leu Une Saison en Enfer, de Arthur Rimbaud, verificando que a produção do poema poderia resultar de jogos sinestésicos, com forte mistura entre percepções afeitas a sentidos diferentes – a cor que evoca a imagem, o som capaz de evidenciar o aroma etc. Engajou-se politicamente e entrou para a Juventude do Partido Comunista Brasileiro. Como havia pichado o slogan “Viva o comunismo” numa estátua, no momento em que ia ser preso pela polícia, a dona da pensão onde morava intercedeu pelo jovem publicista. O policial soube que o rapaz tinha escrito um livro e levou o único exemplar de Nossa Senhora de minha escuridão com ele, em troca da liberdade do moço de 18 anos.
Após uma decepção com o líder comunista Luiz Carlos Prestes, quando este apoiou Getúlio Vargas, Manoel rompeu com o PCB e foi para o Pantanal. Pouco tempo depois, viajou pela Bolívia, pelo Peru e morou um ano
Manoel de Barros escreveu o primeiro poema aos 19 anos e morou no Rio de Janeiro até terminar o curso de Direito, em 1949. O seu primeiro livro, Poemas concebidos sem pecado, foi feito artesanalmente por amigos, numa tiragem de 21 exemplares. Nos anos 1980, sua poesia começou a aparecer ao público através de nomes como Millôr Fernandes, Fausto Wolff e Antônio Houaiss. Hoje o poeta é reconhecido nacional e internacionalmente como um dos mais importantes do Brasil e mais originais do século.
Dentre os prêmios recebidos
pelo poeta, encontram-se: Prêmio Orlando Dantas pelo livro Compêndio para uso
dos pássaros, em 1960; Prêmio Nestlé pelo Livro sobre nada, em 1997; Prêmio
Jabuti de Literatura, na categoria Poesia, com o livro O guardador de águas, em
1989.
(Adilson Citelli)
terça-feira, 12 de março de 2013
Literatura Sul-mato-grossense
Reflexões da Profª Zélia R. Nolasco responde à questão de
como pensar em uma literatura e uma identidade sul-mato-grossense, se a pouco
tempo, existia um só: o Estado de Mato Grosso. Transcrevo o trecho em que a
Profª Zélia reflete sobre literatura e identidade sul-mato-grossense.
Literatura
sul-mato-grossense: reflexões
Zélia R. Nolasco
*O estudo de literatura é compreendido como uma grande
reserva de cultura e também como ideal de formação humana, daí o fato de
ressaltar que o professor de literatura era visto como um "professor de
civilização". Desse modo, refletir sobre literatura e identidade
sul-mato-grossense é reforçar que o conhecimento literário produzido
historicamente ocupa na prática cultural um lugar de privilégio, pois se coloca
como objeto de interrogação, de dúvida e de pesquisa. Diante disso, como pensar
em uma literatura e uma identidade sul-mato-grossense, se a pouco tempo,
existia um só: o Estado de Mato Grosso?
Com a criação do Estado de Mato Grosso do Sul, no ano de
1977, observa-se o início de uma busca desesperada por uma identidade. Ao
analisarmos esse movimento, parece-nos que uma decisão que foi tomada pensando
na afirmação de um povo, simplesmente, tomou o caminho oposto, passando a negar
esse mesmo povo. Ou ainda, e o mais provável é que esse mesmo povo tenha se
sentido negado, passando a ser um corpo estranho em sua própria terra. É como
se de repente, a população do Estado tivesse perdido o chão simbólico que já
existia e tudo tivesse ficado para o outro, o antigo, o Estado de Mato Grosso,
o que permaneceu com a tradição histórica e literária, pelo menos na concepção
de alguns. Sendo assim, o novo Estado de Mato Grosso do Sul teria que criar ou
recriar uma nova identidade para o seu povo?. Temos duas possibilidades de
análise. Em primeiro lugar, se formos pela concepção de que o Estado é um
recém-nascido, realmente, a opção será a de criar uma identidade, uma história
e também uma cultura. Em segundo lugar, se a concepção for a de que o Estado
apenas foi dividido em partes distintas: Sul e Norte, não há porque criar
aquilo que o povo já tem, pois o fato de ter o seu território dividido não quer
dizer que tenha deixado de existir, que tenha perdido sua história, sua
cultura, sua memória.
A segunda possibilidade parece-me a mais sensata, não
vejo motivos para que os sul-mato-grossenses tenham tamanha crise de
identidade. Até porque os aspectos históricos culturais e identitários não se
mudam simplesmente por uma decisão político-administrativa. Acredito que essa
preocupação e crise de identidade fazem parte do mundo de algumas pessoas,
principalmente, daquelas que no momento da divisão do então Estado de Mato
Grosso já tinham mais que vinte anos. Faço essa afirmação, pois conforme
Melchior de Vogué: "O século começa sempre para os que têm vinte
anos" (VOGUÉ, 1950, p.43). De repente, aí está a explicação: as pessoas
com mais idade se sentiram desterradas com a divisão do Estado enquanto que
esse sentimento não é perceptível entre as pessoas mais jovens, elas não
apresentam essa crise de identidade, simplesmente, são sul-mato-grossenses.
Aliás, na busca por uma afirmação da cultura e da
literatura sul-mato-grossense estão duas reivindicações: uma, do Conselho
Estadual de Educação do MS, Parecer nº. 235/2006, sobre a inserção da cultura
sul-mato-grossense na Educação Básica do Sistema Estadual de Ensino; a outra,
uma audiência pública: A literatura sul-mato-grossense, na Câmara Municipal de
Dourados, no dia vinte e três de outubro de 2009, para se discutir o ensino da
mesma nas escolas da rede pública. Mas, bem sabemos que: "Uma identidade
nunca é dada, recebida ou atingida" (DERRIDA, 1996, p.53). Logo, por mais
que a cultura e a literatura sul-mato-grossense sejam estudadas e divulgadas
nas escolas, isso não fará com que os estudantes se sintam mais
sul-mato-grossenses em função disso. Se bem que o que está embutido,
principalmente, na segunda reivindicação, é a publicação de escritores e a
produção de um mercado para os livros aqui produzidos com incentivo do Governo
do Estado e, também, a criação de uma disciplina de literatura
sul-mato-grossense.
O investimento em cultura é sempre muito positivo e a
literatura é a mais viva expressão cultural de um povo. Porém, é importante
ficarmos atentos a essa última proposta, pois ao criarmos uma disciplina de
literatura sul-mato-grossense, abre-se a possibilidade de que seja criada
também uma disciplina de literatura paulista, outra de literatura paranaense,
outra de literatura gaúcha, e assim, sucessivamente, cada Estado com sua
literatura. Já imaginaram, no caso do MS, se cada imigrante que aqui se
encontra quiser que a sua literatura de origem seja ministrada nas escolas para
seus filhos? Será que não estamos caminhando para um apartheid
literário/cultural? Será que estudar os escritores regionais dentro da
disciplina de Literatura Brasileira não basta? Enfim, o que move o mundo são as
perguntas e não as respostas, mas um bom caminho para encontrá-las é através da
leitura.
*Professora zelianolasco@uems.br
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