domingo, 26 de junho de 2011

BULLYING

Bullying e a rotura de valores morais

O BULLYING assimila todos os moldes de atitudes agressivas, premeditadas e recalcadas, que acontecem sem causa evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outros, ocasionando dor e angústia, e efetuadas num relacionamento desigual de poder.O desequilíbrio de poder é uma das causas primárias, que levam à possível intimidação da vítima, pois ela é feita geralmente em grupo e não permite que o lesado se possa defender.

Infelizmente já se tornou um problema mundial, ponto vital de ataque, Escolas, Instituições e colégios particulares, não existe preferência do meio, porque nada lhes é adverso, eles atuam em qualquer um, a nível rural, citadino, não existe preocupação da parte dos intimidadores; para eles é mais um sítio, nada mais que isso. A maior fragilidade é a omissão, da parte das Instituições, talvez por medo de represálias. Estes jovens não têm empatia, ou relacionamento averbado a amizades.

Geralmente pertencem a famílias desestruturadas, nas quais não existe relacionamento afetivo entre seus membros. Seus pais exercem uma pobre ou nenhuma influência sobre eles, toleram e oferecem como modelo para solucionar conflitos, o comportamento agressivo ou expansivo. Claro que isso se vai refletir num futuro recente dos jovens, quando adultos, terão com toda a certeza um comportamento antisocial e violento, podendo vir a adotar, inclusive, atitudes delinquentes ou de criminalidade inconsequente, a qual não terá parâmetros de quantificação.

Os atingidos são pessoas tímidas, e sem meios de poderem defender-se, pela sua fragilidade, tudo porque a pouca sociabilidade, lhes retira o apoio ou então nutrem de um sentimento de insegurança que os impede de solicitar ajuda. Estas individualidades vivem sem esperança quanto às possibilidades de se ajustarem ao agregado que os envolve. A baixa autoestima é enorme, e reforçada pelas ingerências críticas ou pela indiferença dos seres que estão à sua volta, sobre seu sofrimento. O mais saliente é que muitos crêem ser merecedores da malvadez que lhe é tributada.

A falta de amizade, passividade, quietude dá-lhes a inoperância para reagir em sua defesa. Claro com tudo isto o desempenho escolar caí por terra, permanecem e aguentam todo este horror ou negam-se a ir para a escola, até simulam doenças. Andam de colégio para colégio com assiduidade, ou repudiam os estudos. Há jovens que tomam os extremos da depressão acabando por tentar ou cometer o suicídio. Tudo isto está banalizado por falta de coerência e de tomadas de medidas que equacionem a defesa destes jovens.
Victor Passos


terça-feira, 14 de junho de 2011

Não importa onde esteja, ... estará sempre conosco !

Ao Prof. Divino,

Sabemos que está no conforto eterno... e a nós que ficamos;... só nos resta rezar por sua alma saudosa, porque um dia estaremos todos juntos.
As pessoas que amamos nunca morrem... apenas partem... antes de nós!

domingo, 12 de junho de 2011

Arraiá da Escola Eldorado 2011












Link do filme Vidas Secas

http://youtu.be/9eDeIKxZ48c

Vidas Secas - Graciliano Ramos

Vidas Secas - Graciliano Ramos

1 - Introdução

Publicado em 1938 , VIDAS SECAS aborda a problemática da seca e da opressão social . Ao contrário dos romances anteriores, é uma narrativa em terceira pessoa.

O romance tem um caráter fragmentário. São "quadros", episódios que acabam se interligando com uma certa autonomia. Como coloca o crítico Affonso Romano de Sant'Anna - Estamos sem dúvida, diante de uma obra singular onde os personagens não passam de figurantes, onde a estória é secundária e onde o próprio arranjo dos capítulos do livro obedecem a um critério aleatório. Mesmo com essa estrutura descontínua, há uma proximidade entre o primeiro capítulo: Mudança- a chegada de uma família de retirantes - e o último: Fuga - a mudança da família que , diante da seca, foge para o sul. Esse caráter mostra que o romance é cíclico, onde o mundo se fecha para a família de Fabiano, saindo de uma mera classificação regionalista para mostrar o drama que o Homem sofre com a opressão do mundo .

2 - Enredo

Podemos assim sintetizar os capítulos da seguinte forma :

CAP. 1 - MUDANÇA: uma família sertaneja fugindo da seca. Compõe a família: Fabiano, sua esposa Sinha Vitória, os dois filhos do casal caracterizados por menino mais novo e menino mais velho, a cachorra Baleia e um papagaio, que morrera para alimentar a família .

Como o próprio título sugere, a situação da seca acaba por tornar as pessoas (vidas) em amargas (secas), como no episódio onde o menino mais velho senta-se no chão exausto da caminhada. Fabiano tem uma reação totalmente hostil :"-Anda, condenado do diabo..." , pois o pai possuía "o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça.".

CAP. 2 - FABIANO: a família se aloja em uma fazenda abandonada. Depois de uma trovoada, o dono da fazenda chega e expulsa a família de retirantes . Fabiano se faz de desentendido e se oferece para trabalhar como vaqueiro. O fazendeiro acaba por aceitar a oferta.

Todo capítulo é centrado na análise de Fabiano. De vocabulário reduzido (mais grunhindo do que falando), inveja o seu Tomás da bolandeira, por possuir facilidade em se expressar.

O seu caráter isolado, sua rusticidade e o pouco vocabulário o faz se aproximar de um bicho, como ele próprio coloca: "Você é um bicho, Fabiano." , pois como o narrador revela, ele "Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais".

CAP.3 - CADEIA: temos a aparição do soldado amarelo (que reaparecerá no cap. 11) simbolizando a autoridade governamental. Fabiano, que ao ir à cidade fazer compras, acaba por jogar cartas com o soldado amarelo. Depois de um pequeno desentendimento, Fabiano é preso e espancado. Ele tenta compreender sua situação, mas não consegue devido a falta de organização de seus pensamentos. Revolta-se contra a injustiça que sofre, desejando vingança , mas acaba se conformando .

CAP 4 - SINHA VITÓRIA: centrado na esposa de Fabiano, mostra-nos o seu desejo em adquirir uma cama de couro (como a do seu Tomás da bolandeira ). Os esforços nesse sentido parecem inúteis, pois eles tem muito pouco com o que economizar . Nesse aspecto, o narrador mostra o inconformismo de sinha Vitória com a sua situação, ao contrário do marido, que aceita os fatos de forma mais passiva .

Fabiano a compara com o papagaio que morrera, fazendo analogia ao seu caminhado. No entanto, ela se mostra mais esperta do que o marido, além de articular as palavras melhor do que ele.

CAP. 5 - O MENINO MAIS NOVO: o garoto é apresentado como possuidor de um único ideal em sua vida: ser igual ao pai - Evidentemente ele não era Fabiano. Mas se fosse? Precisava mostrar que podia ser Fabiano.

Querendo imitar o pai, o menino tenta fazer montaria em um bode, acabando por cair. O tombo revela que o garoto ainda não é Fabiano, entretanto, tal fato não o afasta de seu sonho: "... precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano, matar cabras a mão de pilão, trazer uma faca de ponta à cintura. Ia crescer, espichar-se numa cama de varas, fumar cigarros de palha, calçar sapatos de couro cru."

CAP. 6- O MENINO MAIS VELHO: nesse capítulo, o menino se impressiona com a palavra inferno. Na tentativa de compreender o seu significado, pergunta a sinha Vitória, que fala pouco e age de modo arbitrário ao repreendê-lo. Busca aprendê-la , pois possuía "... um vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da seca."

Há uma aproximação dele com Baleia, devido a sua carência, pois a cadela lhe devota uma certa atenção -"a cadelinha era o único ser vivente que lhe mostrava simpatia."

CAP 7 - INVERNO: início do período chuvoso. Descrição de uma noite torrencial e os temores que a chuva despertava na família de Fabiano, capaz invadir tudo. Fabiano tenta contar histórias enquanto os garotos passam frio.

CAP 8 - FESTA: a família vai à cidade para as comemorações do Natal. A família veste roupas confeccionadas por sinha Terta para a ocasião. Como Fabiano havia comprado pouco tecido, as roupas ficam muito justas. Com a falta de hábito de usar sapatos, a sensação de ridículo aumenta. Aumenta o sentimento de inferioridade ao perceberem a grande diferença entre esses dois mundos. Fabiano se embebeda, enchendo-se de coragem para fazer provocações. Como ninguém lhe responde, acaba voltando para junto de sua família.

CAP 9 - BALEIA: Baleia adoece (fica hidrófoba). Cai-lhe o pêlo, estava magérrima e com o corpo cheio de chagas. Fabiano resolve matá-la , temendo que passe a doença aos filhos.

CAP 10 - CONTAS: nesse capítulo percebemos a opressão do proprietário rural para com o seu agregado. Fabiano é enganado no acerto de contas com o patrão. Ao comentar que a conta do patrão difere da de sinha Vitória, este se irrita, diz que são os juros e intenciona demiti-lo. Fabiano que acaba por se humilhar e pedir desculpas ao patrão, mesmo sabendo que este está lhe enganando .

CAP 11 - O SOLDADO AMARELO: um ano após ser preso e espancado pelo soldado amarelo , Fabiano o reencontrará na caatinga. Embora deseje vingança, acaba submetendo-se a ele e ensinando-lhe o caminho. Percebe-se que, fisicamente, o soldado é mais fraco do que Fabiano -"O soldado, magrinho, enfezadinho, tremia". Todavia é por ele respeitado por representar o governo -"Governo é governo".

CAP. 12 - O MUNDO COBERTO DE PENAS: Fabiano e sua família preparam-se para partir pelo prenúncio de outro período de seca , que é anunciado pelas aves de arribação . Fabiano atira nos pássaros para garantir alimento para a família para os próximos dias.

CAP. 13 - A FUGA: partida da família de Fabiano. A seca começa a se tornar forte e, não tendo como resgatar sua dívida junto ao patrão, resolvem fugir. Fabiano nutre esperanças quanto ao futuro dos garotos , estudando e morando numa cidade grande ; sinha Vitória pensa um dia poder dormir em uma cama de couro. Mistura de sonhos, descrenças e frustrações em que termina o romance. Mas são somente ilusões -"O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinha Vitória e os dois meninos."

3 - Estrutura da narrativa

I Tempo

A ação ocorre entre dois períodos de estiagem (primeiro e último capítulo). Embora haja algumas referências cronológicas presentes na obra , há uma diluição do tempo cronológico para o predomínio do psicológico.

II - Espaço

Sertão nordestino.

III - Narrador

Narrado em 30 pessoa , é o narrador que se interioriza nos pensamentos dos personagens para revelá-los ao leitor, já que os personagens possuem uma linguagem precária. Assim, o texto fica estruturado no discurso indireto livre (predominante), onde o narrador "toma posse" do discurso dos personagens para expô-los, evidenciando seus medos, desejos, raivas e frustrações através de monólogos interiores. O foco narrativo ganha destaque ao converter em palavras os anseios e pensamentos das personagens.

IV - Personagens

CONSIDERAÇÕES GERAIS :

O grau de verossimilhança na caracterização de Fabiano e sua família é muito grande. A brutalidade da seca faz com que os personagens também se embruteçam, daí a freqüente recorrência do autor ao compará-los com animais , revelando seus aspectos rústicos. Há uma evidente zoomorfização das personagens. Elas não falam, mas grunhem, rosnam, gesticulam e falam palavras soltas. Cabe ao narrador interpretar e expor os seus desejos e anseios.

FABIANO

O dicionário Aurélio dá a definição de Fabiano como sendo indivíduo inofensivo; pobre diabo. Tal significação é reiterada a todo instante na obra. Fabiano fica dividido entre a revolta e a passividade, optando pela segunda atitude diante de sua impotência.

Tal impotência é reforçada pela não aquisição da linguagem, que é o seu maior anseio. Toma como exemplo seu Tomás da bolandeira, tentando de forma caótica imitar-lhe o vocabulário. Por não saber se expressar, entra num processo de isolamento, aproximando-se dos animais, com os quais se identifica melhor .

SINHA VITÓRIA

Mais astuta do que o marido , é ela que percebe as trapaças do patrão (cap. 10) e também o início da estiagem (cap. 12) . Possui um espírito inconformado com sua situação, tendo como desejo de consumo uma cama de couro igual à do seu Tomás da bolandeira .

Seu inconformismo faz com que ela se transforme em uma pessoa queixosa, sendo impaciente com os filhos e um tanto quanto amargurada.

OS MENINOS

A ausência de nomes e de caracteres específicos acaba por projetá-los ao anonimato, formulando assim um caráter de denúncia. Parafraseando João Cabral de Melo - São tantos severinos / Iguais em tudo na vida.

Enquanto o mais novo vê no pai um ídolo, um modelo a ser seguido, a mais velho já é curioso, possui o desejo de saber.

BALEIA

A conotação do nome Baleia ganha dois sentidos . Além de ser uma ironia requintada feita pelo autor , figura também como uma compensação pela carência d'água .

Ela é humanizada em vários momentos, tornando-se um membro da família, sempre se solidarizando com esta (o episódio do preá e do consolo que dá ao menino mais novo quando este cai do bode e fica triste). Sua solidariedade é desinteressada , pois além de ser bastante enxotada , fica sempre com os ossos , contentando-se com o pouco .

SEU TOMÁS DA BOLANDEIRA

Personagem que só aparece por meio de evocações (pois já havia morrido), é tido como referência para Fabiano e sinha Vitória. Enquanto Fabiano admira sua linguagem, tentando imitá-la de forma desconexa, sinha Vitória deseja uma cama de couro igual à sua. Dessa forma, ele representa as aspirações de mudança do casal.

O SOLDADO AMARELO , O DONO DA FAZENDA E O FISCAL DA PREFEITURA

Os três personagens são representantes das instituições sociais que oprimem Fabiano. O soldado - corrupto, oportunista e medroso; o dono da fazenda - exigente, ladrão e opressor; o fiscal da prefeitura intolerante e explorador .

4 - Estilo e linguagem

Há uma certa comparação entre a linguagem do autor de São Bernardo e Machado de Assis . Isso decorre devido ao burilamento da linguagem de Graciliano , clássica . O despojamento de adjetivos é eminente , centrando-se o autor no substantivo (criteriosamente selecionados). Os períodos são curtos , o que realça um estilo conciso , "seco".

Graciliano ainda se utiliza de expressões regionais, adequando-os à sintaxe tradicional. A ausência de diálogos se faz presente devido à uma ausência vocabular por parte das personagens, que se comunicam através de onomatopéias, exclamações, resmungos e gestos, enfatizando a animalização dos personagens, que são marginalizados também pelo fator lingüístico. Por esse fator , há a predominância do discurso indireto livre, onde o narrador, através de monólogos interiores, ordena logicamente o discurso dos personagens.

5 - BIBLIOGRAFIA

RAMOS , Graciliano. Vidas Secas . Rio de Janeiro, Record , 1998.
CASTRO , Dácio Antônio de. Roteiro de Leitura : Vidas Secas. São Paulo, Ática , 1997.
BOSI , Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo,Cultrix , 1988.

Fonte: vbookstore.uol

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Policarpo Quaresma

O Triste Fim de Policarpo Quaresma

O Triste Fim de Policarpo Quaresma - Lima Barreto

Descrição da Obra

Triste Fim de Policarpo Quaresma é um romance do pré-modernismo brasileiro e considerado por alguns o principal representante desse movimento.

Escrito por Afonso Henriques de Lima Barreto, foi levado a público pela primeira vez em folhetins, publicados, entre Agosto e Outubro de 1911, na edição da tarde do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro.Em 1915, também no Rio de Janeiro, a obra foi pela primeira vez impressa em livro, em edição do autor.

O romance discute principalmente a questão do nacionalismo, mas também fala do abismo existente entre as pessoas idealistas e aquelas que se preocupam apenas com seus interesses e com sua vida comum.Com uma narrativa leve que em alguns pontos chega a ser cômica, mas sempre salpicada de pequenas críticas a vários aspectos da sociedade, a história se torna mais tensa apenas quando o autor analisa a loucura e no seu final, quando são feitas duras críticas ao positivismo e ao presidente Floriano Peixoto (1891-1894).

O autor optou por escrever a narrativa numa linguagem próxima à informal falada entre os cariocas. Ela se desenvolve em torno de Policarpo Quaresma, brasileiro extremamente nacionalista, e é dividida em três partes, cada uma contendo cinco capítulos.

Enredo

Aviso: Este artigo ou seção contém revelações sobre o enredo.

Primeira parte;

A primeira parte da obra se desenrola na cidade do Rio de Janeiro, logo após a proclamação da República no Brasil, e introduz as principais personagens.

O major Policarpo Quaresma é um reservado funcionário do Arsenal de Guerra que vive com a irmã, Adelaide, e é marcado por um forte sentimento nacionalista.

Buscando saídas políticas, econômicas e culturais para o Brasil, Policarpo passa grande parte de seu tempo enfiado nos livros, pelo que é criticado por parte da vizinhança - que o critica ainda mais quando ele decide aprender a tocar um instrumento mal visto pela burguesa sociedade carioca da época, o violão, por considerá-lo um representante do espírito popular do país.

E é no aprendizado do instrumento que conhece aquele que será seu grande amigo no correr do romance, o seresteiro Ricardo Coração dos Outros, contratado para lhe ensinar. Porém, cedo Policarpo se desencanta pelo violão - e pelo folclore - e parte em busca das tradições genuinamente nacionais, i.e. indígenas.

Tal aprendizado leva a alguns momentos cômicos - como quando Policarpo recebe a afilhada e o compadre aos prantos - e à tragédia da loucura: após ter sugerido à Assembléia Legislativa republicana a adoção do Tupi como língua oficial - e ser motivo de chacota de toda a imprensa e dos colegas de repartição -, Policarpo redige, distraído, um documento oficial naquela língua e termina, após uma elipse temporal, internado num manicômio.

Lima Barreto aproveita também para ridicularizar a pequena burguesia suburbana em vários momentos, como na festa de noivado de Ismênia, filha do inútil general Albernaz, freqüentada por pedantes funcionários públicos e militares preocupados unicamente com a aposentadoria.

Segunda parte;

Na segunda parte, são analisados os problemas enfrentados pela porção rural do país.

São e aposentado, Policarpo vende sua casa e compra, por sugestão da afilhada Olga, um sítio na fictícia cidade de Curuzu, ao qual ele chama de Sossego e onde ele passa a tentar provar a decantada fertilidade do solo brasileiro.

Com a ajuda do empregado Anastácio, Policarpo luta contra saúvas, ervas daninhas e outras pragas na tentativa de incentivar a iniciativa agrícola em outras pessoas e ajudar no crescimento econômico do Brasil.

A fertilidade do solo, no entanto, não se comprova na prática, e sua plantação gerou pouquíssimos lucros. Para piorar, Policarpo viu-se envolvido, involuntariamente, na luta política da cidade, sendo atacado com multas e difamações por gregos e troianos, tudo por causa de sua suspeita (para os locais) neutralidade.

Ao saber sobre a Revolta da Armada, nosso protagonista "pede energia" em telegrama ao Presidente Floriano Peixoto e segue para o Rio de Janeiro para dar apoio ao regime e sugerir reformas que mudassem a situação agrária.

Terceira parte;

Última e mais tensa parte do livro, narra as andanças de Policarpo pela Capital Federal durante a Revolta da Armada e mostra sua desilusão final. Há aqui uma crítica feroz aos positivistas que apoiavam a Primeira República.

Chegado ao Rio, Policarpo é bem recebido por Floriano Peixoto, que, no entanto, dá pouca atenção às suas propostas de reforma.

Decidido a lutar pela República, Policarpo é então incorporado a um batalhão, o "Cruzeiro do Sul", com o posto de major, o que, apesar do apelido, ele nunca fôra.

Encarregado de um pelotão de artilharia improvisado com voluntariados à força - como seu amigo Ricardo Coração dos Outros -, Policarpo deveria rechaçar investidas dos marinheiros às praias cariocas.

A revolta criava ao mesmo tempo tensão - devido a prisões e violências arbitrárias - e oportunidades de ascensão social e empregatícia a cupinchas e puxa-sacos. Policarpo, enquanto isto, percebe que suas propostas não eram levadas a sério - é chamado, de forma um tanto irônica, de visionário pelo indolente Marechal de Ferro Floriano Peixoto - e desilude ainda mais quando, tendo entrado em combate, acaba por matar um dos revoltosos.

Finda a Revolta e encarregado de cuidar de um grupo de prisioneiros, Policarpo chega à conclusão de que a pátria, à qual ele sacrificara sua vida de estudos, era uma ilusão.

Seu destino é selado quando, após presenciar a escolha arbitrária de prisioneiros a serem executados, ele escreve uma carta a Floriano Peixoto denunciando a situação: o maior patriota de todo o livro é injustamente preso, acusado de traição.

Ricardo Coração dos Outros, inteirado da situação, procura todos os antigos amigos e conhecidos de Policarpo para ajudá-lo, mas todos se recusam por medo ou ganância, com exceção da afilhada, Olga, que, no entanto, parece incapaz de fazer qualquer coisa pelo padrinho a quem admira tanto.

O romance, no entanto, acaba em aberto, e ficamos sem saber se Policarpo será ou não, de fato, fuzilado.


Para download do livro clique no link abaixo:


O Guarani parte 1

terça-feira, 7 de junho de 2011

Obra "O Guarani" de José de Alencar


Para baixar a obra completa clik no link abaixo:

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1843

O Guarani - José de Alencar

O Guarani, de José de Alencar

Análise da obra

O Guarani - A epopéia da formação da nacionalidade

Escrito originalmente em folhetim, entre fevereiro e abril de 1857, com 54 capítulos, O Guarani teve tal êxito na edição folhetinesca que, antes do fim do ano de 1857, foi publicado em livro, com alterações mínimas em relação ao que fora publicado em jornal.

Mantiveram-se as quatro parte originais: Os Aventureiros, Peri, Os Aimorés e A Catástrofe, com os capítulos dispostos como saíram do folhetim.

O romance se compõe, em grande parte, de personagens e episódios, mas as imagens permanecem na memória e amarram os fios mais importantes da narrativa. São imagens poderosas, que se impõem sobretudo por seu caráter plástico. Por isso, a crítica distingue em Alencar um grande escritor, um grande artista da palavra, mas não compartilha do mesmo entusiasmo quando se refere aos seus enredos, à carpintaria da narrativa, algumas vezes falha (os conhecidos "cochilos" do escritor), e quase sempre previsível quanto às ações das personagens, lineares ou planas.

A narrativa de O Guarani é simples, mas não simplista. Trabalhando habilidosamente as possibilidades e contradições do romance romântico, vale-se com muita liberdade da trama novelesca, da coloração épica, do devaneio lírico, da anotação histórica da efabulação mítica e lendária, do ímpeto ideológico nacionalista e de elevada carga simbólica, tudo isso revestido de uma profusão de luzes e cores que invade a pupila do leitor, como se ele estivesse assistindo a um espetáculo grandioso, povoado pelas forças da natureza e por titãs, absorto pela beleza da cena, mais do que pelos pormenores da intriga.

Personagens: Peri: índio valente, corajoso, chefe da nação goitacá, o Guarani.

Ceci (Cecília): moça linda, de doces olhos azuis, gênio travesso, mas meiga, suave, sonhadora, herdeira da força moral interior de seu pai, D. Antônio Mariz.

Isabel: moça morena, sensual, de sorriso provocador; filha bastarda de D. Antônio Mariz com uma índia, oficialmente sobrinha dele e prima de Ceci.

D. Antônio Mariz: fidalgo português da mais pura estirpe.

Dona Lauriana: senhora paulista, de cerca de cinqüenta anos, magra, forte, de cabelos pretos com alguns fios brancos; um tanto egoísta, soberba, orgulhosa, diferente do marido, D. Antônio Mariz.

D. Diogo Mariz: jovem fidalgo, na “flor da idade”, que passa o tempo em caçadas e correrias; tratado com rigidez pelo pai, D. Antônio Mariz, em nome da honra da família.

Loredano: um dos aventureiros da casa do Paquequer; italiano, moreno, alto, musculoso, longa barba negra, sorriso branco e desdenhoso, ganancioso, ambicioso; ex-padre (Frei Ângelo de Luca), religioso traidor de sua fé.

Enredo

A ação passa-se na primeira metade do século XVII, iniciando-se em 1604. Por meio do flashback, o narrador, ao apresentar o fidalgo D. Antônio Mariz, recua até à fundação da cidade do Rio de Janeiro, em 1567, por Mem de Sá, da qual o pai de Ceci teria participado, combatendo os índios inamistosos e os invasores franceses. Após o desastre português nas areias do Marrocos, em Alcácer Quibir, em 1578, e o subseqüente domínio espanhol, em 1580, D. Antônio Mariz decide-se a permanecer no Brasil, para não submeter ao governo filipino. Decide estabelecer-se na sesmaria que lhe fora concedida por Mem de Sá, em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à Coroa Portuguesa. Em 1593, começa a construir uma habitação provisória, até que artesãos do reino edificassem e decorassem o misto de fortaleza, castelo e vivenda, em que se estabeleceu definitivamente com sua família, cavaleiros, agregados, aventureiros etc. Assim como o Frei Antão, protagonista das Sextilhas, de Gonçalves Dias, D. Antônio quer manter na Colônia a integridade do Império Português.

O espaço é o planalto fluminense, a Serra dos Órgãos, às margens do rio Paquequer, afluente do rio Paraíba. A ação principia e termina tendo o cenário o Paquequer; imagem primeira - primordial, plena e pura - que se associa à figura nuclear do protagonista, Peri: "filho(s) indômito(s) desta pátria de liberdade", mas também "vassalo(s) e tributário(s)": o índio, de sua "senhora", Cecília Mariz; o rio, "desse rei das águas", o Paraíba.

D. Antônio Mariz, fidalgo da mais pura estirpe, leva adiante no Brasil uma colonização dentro do mais rigoroso espírito de obediência à sua pátria. Sua casa forte, às margens do rio Paquequer, edificada como verdadeiro castelo medieval, abriga, dentro de um código cavaleiresco semelhante à suserania e vassalagem medievais, ilustres portugueses, afinados ao mesmo espírito patriótico e colonizador. Entre esses cavaleiros e fidalgos insinuam-se aventureiros, mercenários em busca de ouro e prata, liderados por Loredano (ex-frei Ângelo di Lucca), que assassinara um homem desarmado para obter o mapa das famosas minas de prata. Valendo-se da ingênua cordialidade de D. Antônio Mariz, Loredano trama a destruição da nobre família do fidalgo e de seus ilustres agregados. Trama também o rapto de Cecília, filha de D. Antônio. Mas os planos de Loredano esbarram na vigilância constante de Peri, índio da tribo dos goitacás, que, tendo salvo Cecília de uma avalanche de pedras, obteve a mais alta gratidão de D. Antônio Mariz e a amizade de Cecília, que o trata como a um irmão.

A narrativa inicia seus momentos épicos logo após o incidente em que Diogo, filho de D. Antônio, inadvertidamente, mata uma indiazinha aimoré, durante uma caçada. Indignados, os aimorés procuram vingança: surpreendidos por Peri, enquanto espreitavam o banho de Ceci, para logo após assassiná-la, dois aimorés caem transpassados por certeiras flechas; o fato é relatado à tribo aimoré por uma índia que conseguira ver o ocorrido. A luta que irá se travar não diminui a ambição de Loredano, que continua a tramar a destruição de todos os que não o acompanhem. pela bravura demonstrada do homem português, têm importância ainda duas personagens: Álvaro, jovem enamorado de Ceci e não retribuído nesse amor, senão numa fraterna simpatia; Aires Gomes, espécie de comandante de armas, leal defensor da casa de D. Antônio. Durante todos os momentos da luta, Peri, vigilante, não desgruda dos passos de Loredano, frustrando todas as suas tentativas de traição ou de rapto de Ceci. Muito mais numerosos, os aimorés vão ganhando a luta passa a passo. Num momento dos mais heróicos, Peri, conhecendo que estavam quase perdidos, tenta uma solução tipicamente indígena: tomando veneno, pois sabe que os aimorés são antropófagos, desce as montanha e vai lutar "in loco" contra os aimorés: sabe que, morrendo, seria sua carne devorada pelos antropófagos e aí estaria a salvação da casa de D. Antônio: eles morreriam, pois seu organismo já estaria todo envenenado. Depois de encarniçada luta, na qual morreram muitos inimigos, Peri é subjugado e, já sem forças, espera, armado, o sacrifício que lhe irão imprimir. Álvaro (a esta altura enamorado de Isabel, irmã adotiva de Cecília) consegue heroicamente salvar Peri. Peri volta e diz a Ceci que havia tomado veneno. Ante o desespero da moça com essa revelação, Peri volta à floresta em busca de um antídoto, espécie de erva que neutraliza o poder letal do veneno. De volta, traz o cadáver de Álvaro, morto em combate com os aimorés. Dá-se então o momento trágico da narrativa: Isabel, inconformada com a desgraça ocorrida ao amado, suicida-se sobre seu corpo.

Loredano continua agindo. Crendo-se completamente seguro, trama agora a morte de D. Antônio e parte para a ação. Quando menos supõe, é preso e condenado a morrer na fogueira, como traidor. O cerco dos selvagens é cada vez maior. Peri, a pedido do pai de Cecília, se faz cristão, única maneira possível para que D. Antônio concordasse na fuga dos dois, os únicos que se poderiam salvar. Descendo por uma corda através do abismo, carregando Cecília entorpecida pelo vinho que o pai lhe dera para que dormisse, Peri consegue afinal chegar ao rio Paquequer. Numa frágil canoa vai descendo o rio abaixo, até que ouve o grande estampido provocado por D. Antônio, que, vendo entrarem os aimorés em sua fortaleza, ateia fogo aos barris de pólvora, destruindo índios e portugueses. Testemunhas únicas do ocorrido, Peri e Ceci caminham agora por uma natureza revolta em águas, enfrentando a fúria dos elementos da tempestade. Cecília acorda e Peri relata-lhe o sucedido. Transtornada, a moça se vê sozinha no mundo. Prefere não mais voltar ao Rio de Janeiro, para onde iria. Prefere ficar com Peri, morando nas selvas. A tempestade faz as águas subirem ainda mais. por segurança, Peri sobe ao alto de uma palmeira, protegendo fielmente a moça. Como as águas fossem subindo perigosamente, Peri, com força descomunal, arranca a palmeira do solo, improvisando uma canoa. O romance termina com a palmeira perdendo-se no horizonte, não sem antes Alencar ter sugerido, nas últimas linhas do romance, uma bela união amorosa, semente de onde brotaria mais tarde a raça brasileira...

"O hálito ardente de Peri bafejou-lhe a face. Fez-se no semblante da virgem um ninho de castos rubores e lânguidos sorrisos: os lábios abriram como as asas purpúreas de um beijo soltando o vôo.

A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia... E sumiu-se no horizonte..."

As partes estruturais da narrativa - As quatro partes do romance compõem três que podem ser identificados com a distribuição ortodoxa da narrativa em: princípio, clímax e desfecho.

Cenário - A Natureza e a Cultura - Suserania e Vassalagem

O 1º movimento introduz o cenário e as personagens e caracteriza-se pela ausência de conflitos, pela harmonia entre o pólo da Natureza e pólo da Cultura, entre sujeitos e objetos. Há coordenação, complementação e harmonia. Descreve-se seqüencialmente um cenário de montanhas e rios no interior fluminense, os aspectos exteriores do "castelo / fortaleza / casa" de D. Antônio Mariz, e, logo a seguir, os interiores da construção, enfatizando uma antropomorfização da natureza e uma naturalização do homem, de forma que nessas três descrições o natural e o cultural constituam um cenário edênico, paradisíaco, no qual a natureza é a casa do homem, a casa é uma extensão da natureza e o homem opera a união das duas.

Assim, a escada de lajedo é construída metade pela natureza e metade pela arte”, pois nessa paisagem a “indústria do homem tinha aproveitado habilmente a natureza para criar os meios de segurança e defesa". A integração é completa: "havia uma coisa que chamaremos jardim, e de fato era uma imitação graciosa de toda a natureza, rica, vigorosa e explêndida, que o vista abraçava do alto do rochedo"; nos aposentos de Ceci "parecia que a natureza havia se feito menina", e seu quarto, decorado com aves, animais e pedras preciosas, é apresentado como “ninho da inocência" ou "como a atmosfera do paraíso que uma fada habitava".

Exemplos dessa integração harmônica entre natureza e cultura podem ser fartarnente rastreados até o capitulo VIII. Esse clima edênico, paradisíaco está sugerido no brasão da família Mariz, no qual os três reinos, o vegetal, o mineral e o animal, estão enlaçados, numa clara simbologia ou, ainda, quando na descrição da missa rezada por D. Antônio diante de sua Família, a natureza é tomada como uma catedral aberta, imagem ao gosto da mais genuína tradição romântica: Chateaubriand, Lamartine, Garrett, Alexandre Herculano, Gonçalves Dias, para ficarmos nos exemplos mais próximos da tradição romântica luso-brasileira. Nessa missa, não apenas o homem, mas “a natureza se ajoelha aos pés do Criador para murmurar a prece da noite!, "uma prece meio cristã, meio selvagem", vale dizer, uma oração que integra o cultural ao natural.

A ideologia romântico medieval que embasa O Guarani toma a composição piramidal da sociedade, dividida em "senhor" e "servos", em "suserano" e "vassalos", e em "soberano" e "súdito", como princípio natural da ordem e da paz. D. Antônio Mariz exerce em seus domínios o direito natural, conforme concebido na Idade Média, a partir da Suma Teológica, de Santo Tomás de Aquino. O chefe praticava tanto a lei natural quanto a lei humana. Para Santo Tomás de Aquino, a lei natural é o ato da razão e vontade de Deus, que prescreve a observância da origem moral, proíbe a violação e que se manifesta às criaturas na luz natural da razão; e a lei humana é um preceito da razão ordenado para o bem da sociedade, emanado da autoridade competente e por ela promulgado (Suma Teológica, XCIV, 1 e XCVI, 4). D. Antônio Mariz tipifica o exercício das duas leis, como um senhor feudal que associa o poder humano e espiritual, sendo guerreiro e sacerdote ao mesmo tempo: "Assim vivia, e no meio do sertão, desconhecida e ignorada, essa pequena comunhão de homens, governando-se com as suas leis, com seus usos e costumes; unidos entre si pela ambição da riqueza e ligados ao seu chefe pelo respeito, pelo habito da obediência e por essa superioridade moral que a inteligência e a coragem exercem sobre as massas.

A ideologia romântico-medieval que ilustramos até aqui com exemplos do romance é justificada por uma espécie de “modelo natural” que envolve o cenário e as personagens desde a primeira página. Aí, como já referido, a descrição entre o rio Paquequer e o Paraíba é assim descrita: "dir-se- ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro com os rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano. Perde então a beleza selvática: suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso sofre o látego do senhor."

Essa descrição inicial vale como índice não só da estrutura feudal dentro da sociedade chefiada por D. Antônio, mas também da situação inicial de Peri diante de Ceci. O índio guarani (goitacá) chama a fidalga portuguesa de Iara, que significa Senhora, e aparece referenciado várias vezes como escravo submisso, diante da mulher que ele adora com fervor religioso, como um devoto diante de Nossa Senhora, ela Virgem Maria, de que já ouvira falar na educação mariana dos jesuítas, com a qual teve um ligeiro contato. Ao final, senhora e escravo serão descritos como irmã e irmão, sugerindo uma integração total dos elementos, de acordo, com a ideologia do autor, que agora vai afirmar a supremacia da Natureza sobre a Cultura, pois só com a integração total na natureza poderia haver paz.

Conflitos - Natureza e Cultura - Os bons e os maus

O 2º Movimento é o em que os conflitos começam a se delinear, as personagens vão entrando em choque até a quase destruição de todos eles.

O código dramático, a ação conflitual instaura-se quando elementos conflitantes começam a emergir dentro de um clima harmonioso que marca o início do romance e que ocultava os conflitos latentes entre o natural e o cultural e as oposições internas dentro de cada conjunto.

Assim, há dois eixos fundamentais e, em torno deles, desdobram-se todas as relações conflituais:

1º - Natureza x Cultura

2º - Os Bons x Os Maus

Formam-se assim quatro subconjuntos:

1. Os bons da natureza - Peri e os índios da tribo goitacá, pertencente à nação guarani, dóceis, nobres, leais, tomados dentro de uma perspectiva sempre positiva.

2. Os maus da natureza - os índios aimorés, antropófagos, descritos com "fisionomias sinistras, nas quais as braveza, ignorância e os instintos carniceiros tinham quase de todo apagado o cunho da raça humana".

3. Os bons da cultura - D. Antônio Mariz, sua família, especilamente Cecília e, pouco abaixo, Diogo, o filho desastrado; D. Lauriana, a esposa paulista orgulhosa, preconceituosa; Isabel, a suposta filha natural do fidalgo com uma índia, que ele não perfilhou, mas assumiu discretamente como filha adotiva. Seguem-se o cavalheiro Álvaro, corajoso, cortês, dentro do mais restrito figurino das novelas medievais e o escudeiro de D. Antônio, Aires Gomes, espécie de chefe-de-armas do fidalgo.

4. Os maus da cultura - capitaneados pelo vilão, assassino e traidor Loredano, ex-frei Ãngelo di Lucca, que de posse do roteiro das minas de prata descobertas por Ribeiro Dias, no interior da Bahia, pretende vender o seu segredo ao Rei de Espanha, enriquecer e, ainda, destruir D. Antônio Mariz e sua família, raptar e possuir sexualmente, pela força, se necessário, a casta filha loira de olhos azuis do fidalgo. Seguem-se-lhe os demais aventureiros: Rui Soeiro e Bento Simões, entre os mais ativos.

Os elementos negativos e positivos da cultura e da natureza acabam polarizando-se em relações opositivas, regidas por um sentido geral de simetria, cuja bilateralidade vai compondo módulos narrativos que mantêm uma perfeita proporcionalidade.

A partir do segundo capítulo, Alencar começa a desdobrar os sujeitos em pares opostos, repetindo um modo dual de oposição, seja segundo a raça, a moral, a nacionalidade, a religião, os costumes e os sentimentos.

D. Antônio Mariz, fidalgo português, e sua esposa, D. Lauriana, paulista, não fidalga.

Cecília, filha legítima, loira de olhos azuis, e sua irmã por adoção, Isabel, filha natural "dos amores do fidalgo por uma índia", morena de cabelos e olhos escuros.

Álvaro, cavalheiro gentil, de fala cortês e bem cuidada, pretendente à mão de Cecília, Loredano, bandido e assassino, de fala italianada, recheada de lugares-comuns, que pretende raptar Cecília e destruir seu pai.

Álvaro e Loredano - O mocinho e o Bandido

Personagens antagônicos, esse antagonismo é referenciado pela própria natureza que os envolve. No primeiro lance do capítulo III, os encontramos caminhando paralelamente, junto ao rio Paraíba, numa conversa também paralela, em diálogo que não se entrelaça, e mais parece um duelo verbal:

"Uma dessas ocasiões, em que os cavaleiros se aproximaram da tropa que seguia a alguns passos, um moço de vinte e oito anos, bem parecido, e que marchava à frente do troço, governando o seu cavalo com muito garbo e gentileza, quebrou o silêncio geral.

De maneira concisa, a descrição começa a talhar a personagem que exerce a função de autoridade na tropa, ressaltando as qualidades positivas na aparência e na maneira nobre como domina a sua montaria. A gentileza do exercício do mando emerge com a frase alegre de Álvaro:

"— Vamos, rapazes! disse ele alegremente aos caminheiros; um pouco de diligência, e chegaremos com cedo. Restam-nos apenas umas quatro léguas!"

A voz do cavalheiro abre um diálogo tenso, através do qual Alencar, também hábil dramaturgo, constrói pela alternância das falas as personalidades antagônicas de Álvaro e de Loredano, definindo seus sentimentos e perfis morais: o bom-mocismo do primeiro e a mordacidade do segundo:

"Um dos bandeiristas, ao ouvir estas palavras, chegou as esporas à cavalgadura e, avançando algumas braças, colocou-se ao lado do moço.

— Ao que parece, tendes pressa de chegar, Sr. Álvaro de Sá? disse ele com um ligeiro acento italiano, e um meio sorriso cuja expressão de ironia era disfarçada por uma benevolência suspeita.

— Decerto, Sr. Loredano: nada é mais natural a quem viaja, do que o desejo de chegar.

— Não digo o contrário; mas confessareis que nada também é mais natural a quem viaja, do que poupar os seus animais.

— Que quereis dizer com isto, Sr. Loredano? perguntou Álvaro com um movimento de enfado.

— Quero dizer, sr. cavalheiro, respondeu o italiano em tom de mofa e medindo com os olhos a altura do sol, que chegaremos hoje pouco antes das seis horas.

Álvaro corou.

— Não vejo em que isto vos cause reparo; a alguma hora havíamos chegar; e melhor é que seja de dia, do que de noite.

— Assim como melhor é que seja em um sábado do que em outro qualquer dia! replicou o italiano no mesmo tom.

Um novo rubor assomou às faces de Álvaro, que não pôde disfarçar o seu enleio; mas, recobrando o desembaraço, soltou uma risada, e respondeu:

— Ora, Deus, Sr. Loredano; estais aí a falar-me na ponta dos beiços e com meias palavras; à fé de cavalheiro que não vos entendo.

— Assim deve ser. Diz a escritura que não há pior surdo do que aquele que não quer ouvir.

— Oh! temos anexim! Aposto que aprendestes isto agora em São Sebastião; foi alguma velha beata, ou algum licenciado em Cânones que vos ensinou? disse o cavalheiro gracejando.

— Nem um nem outro, sr. cavalheiro, foi um fanqueiro da Rua dos Mercadores, que por sinal também me mostrou custoso brocados e lindas arrecadas de perólas, bem próprias para o mimo de um gentil cavalheiro à sua dama.

Álvaro enrubesceu pela terceira vez.
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— Excelente. Vede, vós, tenho visto coisas que se passam diante dos outros, e que nionguém percebe, porque não se quer dar ao trabalho de olhar como eu: disse o italiano com o seu ar de simplicidade fingida.

— Contai-nos isto, há de ser curioso.

— Ao contrário, é o mais natural possível: um moço que apanha uma flor ou um homem que passeia de noite às luz das estrelas... Pode haver coisa mais simples?

Álvaro empalideceu eu desta vez.

— Sabeis uma coisa, Sr. Loredano?

— Saberei, cavalheiro, se me fizerdes a honra de dizer.

— está me parecendo que a vossa habilidade de observador levou-vos muito longe, e que fazeis nem mais nem menos do que o ofício de espião.

Álvaro intervém com afirmações diretas e recusa-se a conversar "com meias palavras", apresentando sua opção pela franqueza, seu apreço à verdade e sua prática obediente e leal a Dom Antônio Mariz. Este é evocado para demarcar o universo do bem e para construir e legitimar autoridade do jovem sobre a tropa. Assim, ao enfrentar as insinuações de Loredano com recursos próprios à fidalguia, Álvaro revela não dispor de armas adequadas para tratar com a baixeza. Com esses traços, o narrador desenha o moço virtuoso que habita o reino da inocência e deste extrai um amor casto, trazendo mais um fio para o tecido romanesco. O moço sente-se surpreendido, pois seu interlocutor alude a um sentimento que ele julgava oculto. O traço ingênuo da personagem manifesta-se no seu constrangimento não só por titubear para responder ao tropeiro, mas sobretudo pelas anotações do narrador ao registrar que o moço três vezes enrubesce e finalmente empalidece.

Desta forma, Alencar põe em cena um preposto do Dom Antônio Mariz que conquista essa condição por sua conduta de lealdade e generosidade. A narrativa confirmará o caráter virtuoso e ingênuo de Álvaro provendo para ele ações que lhe permitam explicitar suas qualidades. O moço que apanha a flor e suspira será reencontrado quando deposita um presente na janela de Ceci ou quando a ela dirige a palavra de maneira tímida e respeitosa. A lealdade ao fidalgo será reiterada quando se compromete a casar-se com sua filha, renunciando a realizar sua paixão por Isabel, ou ainda por atirar-se à morte numa batalha. Tudo se dá como convém a um cavalheiro a quem o narrador não destina a princesa ou a um jovem a quem Alencar não atribuiu participação decisiva ao processo de configuração do país.

A esta figura contrapõe-se Loredano. Suas intervenções no diálogo são construídas por dois recursos fundamentais: a frase formulada de modo alusivo e o tom irônico. Considerando apenas sua fala, o leitor já percebe que falta grandeza a este homem para enfrentar a situação de conflito, pois ele opta pelas "meias palavras" e revela que seus conhecimentos sobre Álvaro decorrem da atitude de espreita. Mas fundamental para dar a esta personagem o talhe de grande vilão são os comentários do narrador:

"Decididamente o sarcástico italiano, com o seu espírito mordaz, achava meio de ligar a todas as perguntas do moço uma alusão que o incomodava; e isto no tom mais natural do mundo.
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Nestas condições, o italiano lançava sobre ele um olhar a fundo, cheio de malícia e ironia; depois continuava a assobiar entre dentes uma cançoneta de condottiere, de quem ele apresentava o verdadeiro tipo.

Um rosto moreno, coberto por uma longa barba negra, entre a qual o sorriso desdenhoso fazia brilhar a alvura de seus dentes; olhos vivos, a fronte larga, descoberta pela chapéu desabado que caía sobre o ombro; alta estatura, e uma constituição forte, ágil e musculosa eram os principais traços deste aventureiro.

Ele é pródigo em adjetivos para qualificar o tropeiro como encarnação do vício e revela as paixões vis que lhe dão a estatura de agente do mundo demoníaco tão necessário para viabilizar o conflito da estória romanesca. A voz narrativa intercala-se com as frases de Loredano e descreve seu comportamento, realizando um movimento eficaz para anunciar que ele se constitui pela fraude. O narrador segue de perto a personagem e indica-lhe o modo de proceder pautado por disfarces e saudações. Assim, o leitor vê que "a expressão de ironia era disfarçada por uma benevolência suspeita"; que "o sarcástico italiano, com seu espírito mordaz", destilava sua malícia "no tom mais natural do mundo"; no tom mais natural do mundo"; que se apresenta "com uma ingenuidade simulada".

Cecília e Isabel - A Loira e a Morena — A "Mulher-Anjo" e a "Mulher-Demônio"

O narrador retoma o mesmo recurso do contraste que utilizou para caracterizar Álvaro e Loredano; a virgem loira é descrita em um longo trecho, que integra a roupa, a moral, a fisionomia e o ambiente para em que imagens elevadas, de nítido gosto romântico, compor a personalidade de Ceci, aproximada das flores, dos pássaros e da idéia de inefável, gracioso, infantil e angelical.

Isabel tem sua beleza caracterizada como "o tipo brasileiro", revestido de languidez, malícia, indolência e vivacidade, um tipo bem mais terreno, com seus traços humanos mais vincados, os "cabelos pretos", os "lábios desdenhosos", em três parágrafos curtos e precisos:

Era um tipo inteiramente diferente do de Cecília; era o tipo brasileiro em toda sua graça e formosura, com o encantador contraste de languidez e malícia, de indolência e vivacidade.

Os olhos grandes e negros, o rosto moreno e rosado, cabelos pretos, lábios desdenhosos, sorriso provocador, davam a este rosto um poder de sedução irresistível.

Ela parou em face de Cecília meio deitada sobre a rede, e não pode furtar-se à admiração que lhe inspirava essa beleza delicada, de contornos tão suaves; e uma sombra imperceptível, talvez de um despeito, passou pelo seu rosto mas esvaeceu-se logo.

 A imagem sensual enfatiza o "poder de sedução irresistível", capaz não só de despertar sentimentos indignos, mas de portá-los também, como a insinuada sombra de despeito pela beleza e "superioridade" de Ceci.

Alencar colhe a mestiça em situação de precário equilíbrio entre a marginalização, imposta a ela pela dona da casa, e a integração a família, sugerida nos cuidados discretos do fidalgo a ela dispensados e claramente explicitada por Ceci, quando esta lhe propõe tratá-la por irmã. O favor, travestido de afeto, revela-se no testamento de Dom Antônio Mariz. A condição de filha natural pode ser tolerada na casa, mas o acesso ao nome da família lhe é vedado. Ela não pode sonhar com o príncipe encantado ao seduzir Álvaro, transformando o compromisso do moço com Ceci em obrigação e não mais ato de devoção, Isabel conquista o direito de encontrá-lo no céu, longe das normas e dos corpos.

A morte como expiação dos pecados dos amantes e os arquétipos românticos da mulher-anjo e da mulher-demônio dois elementos modulares da narrativa folhetinesca, que Alencar cumpriu à risca.

Na longa caracterização de Cecília que se vai ler, o narrador esmera-se nas comparações sugestivas, mobilizando recursos para traduzir a impossibilidade de descrever precisamente tanta graça e beleza: diminutivos, adjetivos, expressões como "pareciam", "uma espécie de", "um quer que seja de", e comparações que aproximam a graça ao pequeno e delicado, e a suavidade ao ingênuo e simples. As cores predominantes, branco e azul, mesclam-se ao louro e rosa.

Fusão de fada, menina e mulher, a ambigüidade aparece entre atitudes de menina e devaneios de moça.

À languidez do corpo motivada pelo encantamento amoroso vivido no sonho segue-se a criança contrariada a bater o "pezinho", porque em vez de "lindo cavalheiro" via um "selvagem". A imagem onírica perturba o corpo da menina imprimindo nele movimento de mulher, que leva a personagem a aparecer ‘"toda trêmula", "com o seio palpitante substituindo o contentamento pela tristeza. Ela mesma, usando a mediação da contrariedade, localiza a origem da melancolia na distância entre cavalheiro e selvagem. Já desperta, ela confessa seu sentimentoo a Isabel e esta também o vincula ao índio, mas através de outras mediações. As diferenças na interpretação da tristeza reapresentam, sob outro ângulo, a oposição entre a loura e a morena, contrapondo a inocência de um sonho de amor impossível, de "algum desses mitos de um coração de moça" à experiência cotidiana de lsabel, que vive na escala intermediária entre o branco, que domina e o selvagem escravizado.

A apresentação das duas personagens se dá através do emprego de diferentes procedimentos para descrever cada urna delas e da justaposição de uma cena de diálogo à narração de um sonho. Esta montagem deve alertar o leitor para tentar reconhecer a elaboração particular que Alencar dá ao cânon romântico de contrapor a loura casta à morena demoníaca.

Concluindo, O Guarani é inegavelmente belo, válido como obra de arte. A narrativa parte do lendário, mas segue uma racionalização gradual, com ações rigorosamente distribuídas por capítulos que levam a uma concepção harmônica da história e à consonância com os manifestos ideais de afirmação do jovem país.



quinta-feira, 2 de junho de 2011

Semana do Meio Ambiente

A Semana de Conscientização Ambiental no mês de junho poderá servir para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente, através de ações pontuais, como por exemplo, a distribuição de mudas, oficinas, mutirões, exposições, feira de artesanato e ecológico e sustentável, intervenções artísticas. Nada disso surtirá efeito se não houver a conscientização. A tarefa de conscientização talvez seja mais difícil do que a de limpeza de ruas, praias, manguezais e rios. Escapa à compreensão de qualquer criança a razão pela qual muita gente continua produzindo e jogando lixo em qualquer lugar. Muitas ruas centrais das cidades expressam, de alguma maneira, a baixa conscientização popular em torno da questão dos resíduos sólidos. E esse é apenas um comportamento inadequado e primitivo de muitos seres humanos. São os mesmos, com certeza, que ainda não separam o lixo e transformam em esgoto o mar e os rios. Estamos longe de atingir um grau de maturidade civilizatória. Mas chegaremos lá, com o empenho das organizações ambientais, das crianças, dos professores e dos pais conscientes

Semana do Meio Ambiente

As sacolas ou bolsas ecológicas vieram para ficar.


Sempre estar na moda. Seja inverno ou verão, para muitas pessoas, antenar-se nas últimas tendências de cores e acessórios, em roupas e calçados, é como estar no paraíso. Aos que se preocupam e atuam pelo meio ambiente, uma das últimas tendências são as sacolas ecológicas.

As tão conhecidas ’sacolinhas de supermercado’ (que levam 300 anos para se decompor) estão dando espaço a sacolas reutilizáveis e outras oxi-biodegradáveis (recicláveis pelos processos naturais).

Se levarmos em conta a trilogia máxima da preservação ambiental que pede, por ordem de importância, Reduzir, Reusar e Reciclar, concluímos que a sacola retornável, semelhante àquela que nossas mães utilizavam para ir à feira toda a semana tem um maior apelo ambiental.

Já existem redes de supermercados que sugerem ao consumidor o uso das sacolas ecológicas. Em outras, os clientes são estimulados a aderirem a elas por meio de descontos nas compras ou juntando pontos para adquiri-las. (Elo Ambiental)

Agora, o que falta é por a mão na consciência e fazer essa moda pegar!